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PiTacO do PapO - 'Halloween' - 2018

NOTA 9.5

Fruta que partiu, que filmão da zorra!

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Existe uma série genial da Netflix chamada 'The Good Place', talvez você já tenha assistido ou ao menos ouvido falar. Caso não a conheça, vai um breve resumo: após a morte, as pessoas vão para o lugar bom ou para o lugar ruim, que são estereótipos genéricos dos conceitos de céu e inferno estabelecidos por Dante Alighieri. O Lugar Bom, que é onde se passa a série a princípio, possui um filtro que impede seus habitantes de falarem palavrões. No lugar disso, saem algumas coisas sem sentido como “filho de uma fruta”, que subentende-se que… bem, para quem sabe ler um único pingo já basta. Como soltei vários palavrões durante o filme estou extasiado enquanto escrevo essa crítica, vou usar a metodologia do 'Lugar Bom' para me expressar, para que fique nas entrelinhas o que quero dizer sem apelar para uma linguagem vulgar; então não se assustem caso leiam alguma palavra aparentemente sem sentido, ela está ali para maquiar o lugar de outra. Então lá vai: com vocês, um filmão do baralho chamado 'Halloween'!

Para início de conversa, devo dizer que esse filme foi feito para os fãs. Se você é um fusão que ainda não viu o clássico de 1978 então talvez não vá se contentar com o clima retrô do filme, que segue uma estrutura bem diferente dos filmes do gênero dessa última década. Sendo assim, tome vergonha nessa cara, pare de zé cruzeta e assista essa carvalha logo, é um clássico obrigatório e referência para todos os gêneros do cinema. Depois de assistir, volte cá para continuarmos essa conversa amigável e educada.


O filme começa jogando na cara do público a tradicional vinheta de créditos iniciais após um breve prólogo. A abóbora está lá, assim como também a fonte usada nas palavras também em cor de abóbora, e a luz abóbora cintilando de dentro da abóbora (tem muita abóbora nesse filme) para dar todo o clima nostálgico para aqueles que sabem o marco cinematográfico que o primeiro filme, obra de John Carpenter, é. Algumas cenas se reprisam aqui com finalidades diferentes, como a que Allyson, neta de Laurie Strode, olha pela janela assim como fez sua avó no filme de quarenta anos atrás. Ela até se senta, inclusive, no mesmo lugar onde Laurie se sentava costumeiramente, no fundo da sala, na última cadeira junto à janela. Há toda uma aura de identificação entre o público e o filme, indicando que algum massacre está prestes a acontecer, e “regressar” para esse universo acaba sendo uma tortura psicológica deliciosa, como só os bons filmes de terror e suspense sabem criar.

O traço mais marcante do filme original, sem dúvida, é a trilha sonora que entra em cena com a intenção descarada de conduzir a emoção para a ansiedade, sem tentar ser sutil ou discreta, e que retorna aqui com a mesma função mas sem pesar tanto a mão. A música está lá, claro, mas o suspense é explorado também através de outras vertentes - coisa que 'Halloween' sabe fazer muito bem. - E é aí que entramos nos méritos de Jamie Lee Curtis, que retorna mais sodona do que nunca para encontrar o mascarado caladão aprendiz de Frankenstein. Sua Laurie está mais mortal, sangue nos olhos, e voraz do que em qualquer uma das sequências vistas anteriormente. Ela protagoniza algumas cenas moda e se faz a voz da razão mesmo aparentando ser insana e paranoica.

Michael Myers deixou de lado o seu aparente senso de humanidade restante, que o impedia de matar crianças, e isso gera uma tensão absurda quando ele se aproxima de um berço com uma faca na mão. O vilão fedido continua tendo suas fugas miraculosas, mas isso não interfere no que diz respeito a subestimar a inteligência dos espectadores. Sua presença é sutil (como a trilha para esse novo filme também é) e o seu andar calmo cria uma atmosfera de constante perseguição que abraça o público enquanto as pessoas tentam correr e se esconder da sua inevitável chegada.

Porém, fica um pouco complicado definir 'Halloween' em sua própria existência. A produção ignora as várias sequências que apareceram no decorrer dos anos e segue a partir do primeiro filme, como se ele existisse em uma linha do tempo alternativa. O número de mortes causadas por Michael confirma isso, assim como o tempo que ele ficou preso, e o filme anula até o anterior plot-twist de Michael e Laurie serem irmãos colocando esse fato como uma mera lenda urbana, história inventada para botar medo. No entanto, o filme carrega o mesmo nome do seu antecessor, lançado na década de setenta. Assim sendo, o 'Halloween' de 2018 não é um remake pois não se propõem a uma regravação; não é um reboot porque não conta a história original de maneira diferente com um elenco diferente (como os filmes do Homem-Aranha do Marc Webb foram para os do Sam Raimi); e nem exatamente como sequência, mesmo sendo o mais apropriado, pois sua proposta é ser um filme independente que não obriga o grande público a ter assistido ao primeiro. Talvez, dessa forma, 'Halloween' de 2018 seja uma das obras mais originais do gênero dos últimos tempos - não pela história, mas sim pelo contexto.

Apesar de ter um cabra maníaco filho de uma régua e uma idosa com mais pipoca do que os policiais e um bando de manés que insistem em serem presas fáceis, a produção encanta não somente pela identificação mas também pela consciência que tem de si mesmo, sem tornar a ideia de ter um mascarado matando pessoas uma caricatura cafona do terror antigo. Convenhamos, então: esse filme é soda!


Super Vale Ver !


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