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Livro Vs. Filme: 'Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros'

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Hoje vamos estudar um pouco de um dos livros mais brilhantes e um dos filmes mais importantes já feitos. Senhoras e senhores, vamos às obras de arte! Com vocês, as diferenças e semelhanças na adaptação do clássico Jurassic Park!

Livro: O Parque dos Dinossauros, escrito por Michael Crichton
Filme: Jurassic Park, dirigido por Steven Spielberg


Quem cresceu assistindo ‘Jurassic Park’ certamente lida com uma nostalgia gostosa que vem à mente sempre que o filme é revisto, despertando aquele desejo antigo de visitar o parque do filme ou talvez se tornar um arqueólogo. O diretor Steven Spielberg conseguiu, através de seu imensurável talento, criar uma legião de fãs e uma geração inteira de apaixonados por dinossauros que ecoa até hoje e se renova com a franquia ‘Jurassic World’. Que criança dos anos noventa nunca quis ser como Alan Grant ou visitar o parque do filme? A magia do cinema se tornou o sonho que tantos ansiavam ver se tornar realidade, e esse marco histórico cinematográfico venceu três Oscar e ganhou um espaço permanente no coração dos cinéfilos mundo afora.

O título ‘Jurassic Park’ faz referência direta ao período jurássico; mas seu “garoto propaganda”, a monstruosa figura que estampa o símbolo dessa obra famosa, é a silhueta do esqueleto de um tiranossauro. Acontece que o T-Rex foi um dinossauro que viveu, segundo cálculos científicos, no período cretáceo. Na verdade, a maior parte dos dinossauros do livro são desse período. Desse modo, a versão brasileira do título parece ser bem mais adequada por dizer somente que se trata um parque cuja atração são dinossauros, sem especificação da era.


O livro de Michael Crichton é um mix de gêneros e elementos narrativos. Começa parecendo um relato científico, passando à versão macabra de uma lenda urbana e se tornando, por fim, uma aventura equilibrada entre o deslumbramento e o horripilante. A narrativa se inicia com um breve relatório sobre a história da InGen, empresa fictícia de engenharia genética que é tratada aqui com tamanha seriedade que pode ser facilmente tida como real. Depois segue acompanhando acontecimentos bizarros em cidades costeiras da Costa Rica, com seres estranhos sendo avistados vez ou outra e pessoas desaparecendo. Os leitores ficam sabendo, então, do relato de uma mulher (uma parteira, se me lembro bem) que vivenciou uma cena horrorosa onde flagrou um grupo de pequenos lagartos bípedes (que são na verdade dinossauros pequenos chamados compsognatos) terminando de devorar um bebê recém-nascido no meio da noite, enquanto todos dormiam. E então é feita a apresentação do conceito científico da trama, do cenário (a ilha Nublar) e dos personagens que formam os núcleos da história.


Conhecemos o paleontólogo Dr. Alan Grant e a paleobotânica Dr. Ellie Sattler, assim como o advogado Donald Gennaro, o filósofo, matemático e teórico do caos Ian Malcolm e, é claro, o dono do parque revolucionário, o senhor John Hammond. A missão corporativa dessas figuras durante o final de semana é simples: atestar que o parque é seguro e tem capacidade de ser aberto ao público, recebendo assim visitantes de todas as partes do mundo e enchendo o bolso dos acionistas. Juntam-se a eles os netos de Hammond, Tim e Alexis, cuja mãe está se divorciando e enviou os filhos para junto do avô no final de semana em questão. O grupo improvável de cientistas - e crianças - se reúne com esse propósito “nobre” de dar o aval para a abertura da atração jurássica, mas acaba dissolvido quando uma série de imprevistos e traições ocorrem e alteram completamente o andamento do parque. Com o grupo dividido, eles tentam encontrar um meio seguro de reverter o quadro mortal que se desenvolve com a liberdade das feras pré-históricas e sair da ilha com vida.

As maiores aventuras dessa jornada na luta pela sobrevivência ficam com o grupo de Tim, Lex e o doutor Grant. Porém, muito do que passam no livro acabou ficando de fora do filme. Faltaram cenas icônicas, como o tiranossauro nadando nas corredeiras atrás do bote onde o trio estava após ser acordado pelos gritos provocativos da Lex; faltaram os velociraptors pegando carona no quebra-mar de um navio que saía da ilha Nublar, e faltaram algumas resoluções “poéticas” da trama original, que se resultavam em evidências de carmas e dissoluções de conceitos.

Ao final do livro, dois personagens importantes morrem. São eles Ian Malcolm e John Hammond. Malcolm se vai em um delírio filosófico após ser gravemente ferido, e Hammond é devorado por compsognatos após se isolar do grupo, praguejando o fato de seu parque não ter tido a liberação para funcionar. No filme ambos estão vivos no fim das contas, e até aparecem na sequência, ‘O Mundo Perdido’. Nesse segundo livro, que também foi escrito por Crichton, Malcolm também está vivo e protagoniza a trama toda, contradizendo o final do primeiro livro com um argumento esfarrapado e meio milagroso (“preguiçoso” é a palavra), diga-se de passagem. A razão do retorno dele é simplesmente capitalista, uma vez que o segundo livro foi encomendado para ser a base de um segundo filme após o sucesso estrondoso do lançamento do primeiro. Malcolm, que é o personagem que apresenta os melhores argumentos e dilemas morais, foi revivido para atrair público com o charme irreverente de rockstar encarnado por Jeff Goldblum.


Cenas e ideias do primeiro livro que não foram para o filme original acabaram sendo reaproveitadas nas sequências. A cena de abertura de ‘O Mundo Perdido’, por exemplo, onde a filha de uma família rica é atacada em uma praia, é relatada no início de ‘O Parque dos Dinossauros’ junto com os incidentes estranhos na Costa Rica. A cena final do mesmo filme, onde a equipe é encurralada em um galpão na ilha Sorna, também tem sua origem no primeiro filme - e é nessa cena, inclusive, que Malcolm morre. E em ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ o público verá finalmente o tão esperado carnotauro dos livros geniais de Crichton.

O filme de 1993 tem muitos erros de sequência, que vão desde posicionamentos de elementos de cena e movimentação de atores até localização dos cenários em si. A cena quando o helicóptero desce junto a uma cachoeira mostra os jipes já estacionados aguardando os visitantes, mas no take seguinte mostra os carros chegando de ré e a porta se abrindo com o emblema do parque. A emblemática cena do primeiro ataque do tiranossauro é outro exemplo, já que o carro onde Tim está preso acaba caindo em um precipício que não existe, já que foi de lá que saiu o tiranossauro e nessa mesma cena foi mostrada a cabra antes de ser devorada, apresentando um terreno plano e bem sólido junto ao nível do chão.


Nenhum desses erros tiraram a produção de seu pedestal, e o aclamado filme roteirizado por Crichton e David Koepp é idolatrado até hoje como um ícone pop e referência incontestável quando o assunto é dinossauro. O livro é mais completo do que o filme, mas as ausências na adaptação não tiram o brilhantismo da película de Spielberg. Apesar de ser uma obra com apelo de ficção-científica, ‘Jurassic Park’ é uma excelente fantasia e um exemplo maravilhoso de construção de narrativa, seguindo uma linha de suspense parecida com a de Stephen King - que é o autor da nossa próxima obra analisada.

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'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo' 

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